Adriessa - Neurociência e Educação

A memória não é como um músculo

Há uma crença amplamente difundida sobre o funcionamento da memória, que a compara a um músculo. A ideia é que, quanto mais usamos a memória, mais forte ela se torna. Essa visão intuitiva acaba impactando a forma como a educação é organizada, pois é frequentemente usada para justificar práticas como a aplicação de provas que exigem a memorização de grandes quantidades de informações ou atividades como decorar determinados tipos de assuntos, mesmo que o estudante nunca mais precise daquela informação.

A memória não funciona da mesma maneira que um músculo. Ela não melhora simplesmente pelo fato de ser exercitada, mas sim pela aquisição de conhecimento significativo. O fortalecimento da memória acontece quando o “conteúdo” aprendido está relacionado a ideias que já possuímos e que possam ser transferidos para outras situações. Memorizar sem compreender ou fazer apenas associações mnemônicas não fortalece a memória, pois esse tipo de conhecimento não serve como base para aprender algo novo e, em breve, será esquecido.

Além disso, adquirir conhecimento significativo também não fortalece a memória de forma geral. Não é porque aprendo biologia que, automaticamente, terei uma vantagem para aprender geografia, por exemplo. Isso ocorre porque a memória não é um único “músculo” que se fortalece com qualquer tipo de conhecimento significativo.

Uma analogia mais precisa seria pensar na memória como milhões de músculos, onde cada um é fortalecido pelo conhecimento adquirido de forma específica, conectado por relações de significado. É como se estudar biologia fortalecesse os “músculos” do dedo do pé esquerdo, enquanto estudar geografia fortalecesse os do pescoço.

Portanto, aprender biologia com compreensão nos torna mais aptos a aprender biologia (e, por consequência, áreas relacionadas a ela, como a neurociência, que se conectam de maneira significativa à biologia).

Se o nosso objetivo é que nossos estudantes se tornem melhores aprendizes, esperar que memorizem dados e somente façam provas não é o caminho. É necessário ensiná-los boas estratégias de aprendizagem, como a prática de lembrar espaçada. 

Referência: MARTÍN, Héctor Ruiz. Como aprendemos? Uma abordagem científica da aprendizagem e do ensino. 3. ed. Tradução de Luciana Vellinho Corso e Luciane Alves Schein. Porto Alegre: Penso, 2023. ISBN 978-6559760473.

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