Alessandra Ribeiro; Beatriz Sato; Isabela de Oliveira Silva; Izabela P. Miranda; Lisa Barki Minkovicius; Maiara Oliveira; Paula Sui King; Renata Rissi Silva.
A educação infantil é o início da fase escolar da criança, o primeiro contato frequente e habitual fora do ambiente familiar, com outras crianças adultos e novas práticas. O ambiente escolar deve ser o mais favorável para a ambientação e aprendizado, oferecendo oportunidades necessárias para cada fase do desenvolvimento infantil. Vemos aí um grande desafio, como conciliar todos os fatores para um desenvolvimento satisfatório? Temos os pais que esperam determinados resultados, os alunos que possuem seu tempo de desenvolvimento, os professores que no dia a dia precisam conciliar todas as diferenças e particularidades de seus alunos e, a partir disso, levantamos a nossa principal indagação: como conciliar os diferentes tempos? O tempo cronológico, das aulas, horários, o tempo dos pais que esperam determinados resultados e o tempo dos alunos, de desenvolvimento, interesse e maturação.
A sensação é que muitas vezes parecemos o coelho da Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll, pois estamos sempre atrasados, com pressa. Nessa ânsia em não querer e não poder perder tempo, levamos conosco a futura geração. Pais sobrecarregam seus filhos com uma agenda abarrotada, escolas rendidas a oferecer um leque diversificado de conteúdos e professores empenhados a cumprir o planejamento, todos com o objetivo de oferecer as melhores situações e estímulos para garantir o máximo aproveitamento do potencial de seus alunos. E as crianças ficam no meio disso tudo, tentando cumprir todas as tarefas e horários, sem ter liberdade para escolherem o ritmo de execução de cada coisa, sem ter tempo para elas mesmas, para brincar, descansar, ou simplesmente não fazer nada. O tempo livre é muito importante para o desenvolvimento da criatividade, concretização de aprendizados, imaginação e ludicidade. Quando não proporcionamos isso, acabamos dando à criança uma rotina de adulto. Ela acaba ficando operacional e perde a magnitude das possibilidades da infância.
A atenção é algo muito questionado nas escolas. Muitas vezes os professores se incomodam com a falta de atenção dos alunos, mas a atenção está relacionada com o interesse. Ela é voluntária e funciona como um filtro a todos os estímulos presentes no ambiente. Fica o questionamento de como manter a atenção dos alunos, para isso é muito importante levar em consideração as necessidades e prioridades deles durante as aulas, tornar a aula atrativa e significativa, com mudanças e quebras ao longo do tempo. Importante ressaltarmos que a atenção sustentada de uma criança dura menos de 10 minutos enquanto nos adultos é de cerca de 20 minutos. Desta maneira é interessante pensarmos na presença de quebras e descontrações ao longo do processo. Sabemos que a atenção é fundamental no processo de aprendizagem, pois é um dos fatores responsáveis pela transformação da memória sensorial (aquela ultrarrápida, associada aos sentidos, que é descartada em frações de segundo) em memória de curto prazo. Uma vez nesse estágio, a memória permanece por algumas horas ou minutos e pode, ou não, pode ser transformada em memória de longo prazo ou, em outras palavras, em aprendizado.
A necessidade da criança pequena, o que lhe chama atenção, está muito relacionada à curiosidade, à vontade de descobrir o mundo, e isso começa bem perto: em seu corpo. Testar movimentos, sensações e possibilidades faz parte do universo infantil e, portanto, atividades escolares que contemplem esta necessidade têm muito mais chance de receber a atenção dos pequenos. Enriquecer as aulas trazendo cheiros, sons e elementos inesperados diversos também pode fazer a diferença, pois, por si só, essas ‘novidades’ já capturam a atenção e favorecem o envolvimento emocional, criando um ambiente propício para a aprendizagem.
Os momentos no ateliê, por exemplo, são repletos de descobertas, aprendizagens e evoluções. Por se tratar de um espaço preparado intencionalmente para que as ideias das crianças se manifestem através do uso de variados materiais, muitas linguagens verbais e não verbais e movimentos corporais são ali vivenciados e aprimorados. Atualmente, muitas escolas já incluíram o ateliê em seus planejamentos semanais, algumas, inclusive, não estabelecem tempo limite para que essas aulas acabem, ou seja, a criança fica plenamente livre para explorar e criar.
Durante a educação infantil temos muitos dos primeiros contatos, experiências e momentos na vida escolar da criança. Elas estão registrando o mundo, se espantam, querem entender, experimentar com todos os seus sentidos intensamente. Seu cérebro é caracterizado por uma exuberância sináptica. Há uma riqueza de possibilidades, as redes neurais estão em intensa formação. Os primeiros anos de vida são, portanto, um período crucial para o desenvolvimento de áreas corticais.
Para que a aprendizagem ocorra é necessário fazer conexões, sinapses entre os neurônios. É preciso que haja atenção, motivação e prática. Retomar o estímulo, revisitar, usar novas estratégias para as sinapses se fortalecerem e serem consolidadas.
O ser humano desde antes do nascimento é parte de um meio social e cultural. Assim que nascemos, iniciamos o processo de significações de gestos e sons e, conforme vamos crescendo, nos desenvolvemos nas diferentes formas de linguagem. É justamente nesse movimento que fazemos a “leitura” do mundo ao nosso redor. Essa leitura se dá pelo brincar. Ou seja, a brincadeira é a maneira pela qual a criança interfere no mundo e, consequentemente, aprende.
O brincar é uma construção cultural, que varia de acordo com a cultura e local no qual está inserido. Nós aprendemos a brincar. E para isso, é essencial o contato com nossos pares para desenvolvermos essa linguagem. Brincar é algo que se aprende e que pode ser desenvolvido e, quanto mais praticamos, melhor ficamos.
Então, o que é brincar? O conceito brincar livre é um movimento voluntário, autônomo e criativo, cujos temas são escolhidos pela criança, e seu tempo é variável, sem haver necessariamente um produto final. De caráter dinâmico, é resultado da interação da criança com seus pares (outras crianças) e dialoga diretamente com o espaço em que acontece. A ideia por trás é a construção das possibilidades de imaginar e de inventar outras situações e culturas. É experimentar e se colocar em diferentes papéis e personagens.
Não importa o tipo de brincadeira, o importante aqui é o adulto saber respeitar esse momento da criança e dar a devida a seriedade que merece ter. Num papel de facilitador, educadores, mães, pais e qualquer outro adulto que estiver com uma criança, nos cabe auxiliar a brincadeira de maneira pontual, leve e com olhar atento. Além disso, é aconselhável que o espaço de brincar seja versátil, aberto para a imaginação e livre para a criança poder modificá-lo.
A criança aprende muito através do seu corpo. O reconhecimento do próprio corpo é essencial para aprendizagem, na Educação Infantil a criança está formando suas bases de conhecimento, inclusive psicomotor. Os primeiros contatos com mundo são com as mãos e a boca, até a criança ir tomando consciência de seus movimentos, ações e reconhecendo seu próprio corpo como um todo, utilizando outras partes dele para interagir com o ambiente. A psicomotricidade é a base fundamental para o processo de aprendizagem de todos os indivíduos.
O principal objetivo da educação psicomotora é a aquisição de imagem de um corpo operatório, e com isso abrange algumas metas como aquisição do domínio corporal, lateralidade, orientação espacial, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e flexibilidade. Trabalha também o controle inibitório, auxiliando no processo de abstração, concentração, reconhecimento dos objetos através dos sentidos, e no desenvolvimento sócio-afetivo.
Conforme a criança adquire esses conhecimentos corporais ela adquire mais habilidades e facilidades para diversos tipos de aprendizados. Uma boa educação psicomotora na educação infantil auxilia na prevenção de dificuldades de aprendizagem, através de uma experiência ativa em relação ao meio. É nesse período que a criança desenvolve sua personalidade e individualidade, as suas bases conceituais. A educação psicomotora, juntamente com a escola e os pais, não tem a finalidade de ensinar comportamentos motores a criança, e sim permitir-lhe que os adquiram da melhor forma, individualmente.
Portanto, vemos que é essencial para a criança ter a liberdade de interagir com o meio em que está inserida, brincar, utilizar seu corpo para execução das atividades, ter tempo livre para imaginar, descansar e consolidar seus aprendizados. Para isso, pais e professores precisam levar em consideração o tempo de desenvolvimento individual da criança, seus interesses, necessidades e dificuldades, assim buscamos proporcionar os melhores estímulos no momento mais adequado e com a duração necessária para cada realidade. Esse é um trabalho conjunto, que necessita de diálogo e disposição, assim, conseguimos ser facilitadores para os aprendizados de nossas crianças. A neurociência nos ajuda então, a compreender que muitas vezes esperamos atitudes das crianças que elas ainda não podem dar, não por falta de vontade ou por preguiça, mas pelo simples fato de que biologicamente elas ainda não estão preparadas para agir desta forma. É nosso papel, como pais e professores, entender isso e estimulá-las para que elas consigam responder aos estímulos de maneira mais adequada ao seu momento de desenvolvimento.
Referências
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Gandini, Lella; HILL, Lynn; Cadwell, Louise; Schwall, Charles (Orgs). 2012. O papel do ateliê na educação infantil; a inspiração de Reggio Emilia. Porto Alegre, RS, Brasil.
Rossi, Francieli Santos. Considerações sobre a Psicomotricidade na Educação Infantil. Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas, Nº 01 –Ano I –05/2012. Disponível em: <http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/Considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-Psicomotricidade-na-Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil.pdf> Acesso em: 02 abr. 2019
Siegel, Daniel J.; Bryson, Tina Payne. 2015. O cérebro da criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar a família a prosperar. Editora nVersos, São Paulo, SP, Brasil.