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Adolescência e cérebro: afinal, o que está acontecendo?

Adolescência: nem tudo é sobre dopamina (tampouco sobre hormônios)

Se você já ouviu que a adolescência é dominada pelos hormônios e pela famosa dopamina, bom… tem um fundo de verdade nisso, mas a história é bem mais complexa. A dopamina pode estar “hypada” nas discussões sobre o cérebro , mas ela não é a única protagonista dessa fase cheia de transformações.

Pegue qualquer livro sobre o cérebro e você provavelmente vai ler que a maior parte do desenvolvimento acontece nos primeiros anos de vida. Sim, o início da infância é um período crítico para a formação de conexões neurais, mas quem disse que depois disso o cérebro já está pronto? Longe disso! A adolescência é, na verdade, um segundo grande momento de remodelação cerebral — e entender isso pode mudar a forma como lidamos com os jovens nessa fase.

O cérebro adolescente: um processo em construção

Como explica a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, o cérebro adolescente está longe de ser uma máquina bem ajustada. Ele ainda está passando por um longo processo de refinamento e aprendizado, moldando-se para formar adultos independentes, responsáveis e bem inseridos socialmente. E isso leva tempo!

As mudanças começam no hipotálamo, que ativa a produção dos hormônios sexuais e sensibiliza o cérebro para novas experiências. Logo depois, vem o impacto no sistema de recompensa: lembra daquela criança que ficava feliz com um sorvete ou um simples passeio? Pois é, essa mesma pessoa agora parece entediada o tempo todo. Isso acontece porque o sistema de dopamina sofre uma queda drástica na quantidade de receptores, fazendo com que atividades antes prazerosas percam a graça. O resultado? Tédio, busca por novidades, atração pelo risco e, claro, aquela impaciência típica da adolescência.

Parece ruim? Nem tanto. Essa inquietação é essencial para que o adolescente se arrisque mais e vá atrás da própria identidade. Como Herculano-Houzel aponta, se ninguém quisesse sair de casa e abrir mão do conforto da infância, quem expandiria os horizontes da humanidade?

Entre a impulsividade e a maturidade

Mas tem um detalhe importante: enquanto o sistema de recompensa já está pedindo por emoções fortes e experiências novas, o córtex pré-frontal — responsável pelo planejamento, autocontrole e tomada de decisões — ainda está em processo de desenvolvimento. E não é um processo rápido, aliás demora para que essa parte do cérebro amadureça completamente.

Isso explica por que adolescentes muitas vezes tomam decisões impulsivas, sem medir as consequências. E é por isso que, mesmo que eles pareçam autossuficientes, precisam de suporte. Não adianta esperar que tomem sempre as melhores decisões sozinhos — aprender a fazer boas escolhas exige prática, informação e, sim, alguns erros pelo caminho.

O papel dos adultos nesse processo

Aqui está um ponto crucial: nosso papel como adultos não é impedir que os adolescentes tomem decisões, mas sim ajudá-los a entender os riscos, as consequências e oferecer apoio quando as coisas não saírem como esperado. Só se aprende a tomar boas decisões… tomando decisões!

Então, ao invés de chamá-los de “aborrecentes” ou tratar tudo como um grande problema hormonal, vale lembrar que eles estão simplesmente fazendo o melhor que podem com o cérebro que têm. O que eles precisam? Espaço para explorar, liberdade para errar e adultos por perto para oferecer alternativas e acolhimento.

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