Se você atribui os comportamentos típicos dos adolescentes à explosão dos hormônios característicos dessa fase, acertou em partes, porque se tem um momento em nossa vida que passa por mudanças, ele é chamado de adolescência. Mas acredite, é uma das fases mais bonitas que temos e a neurociência nos ajuda a compreender isso.
Para iniciarmos a nossa conversa, vamos voltar alguns anos antes quando o adolescente ainda era criança e você o convidava para ir à casa da avó, tomar sorvete, passear… Qual era a resposta? “Ebaa!” E tudo era uma festa e motivo de alegria. Agora faça as mesmas propostas para um adolescente e provavelmente terá como retorno além de um “Aff” uma bufada junto com uma virada de olho.
Adriessa, o que houve com aquela criança amorosa, que gostava de estar com a família e que tudo era muito legal? Ela ainda está aí, fique tranquilo, mas como já mencionado uma série de mudanças nessa fase resultarão em mudanças de comportamento e algumas dessas alterações estão associadas à perda de receptores de dopamina entre os períodos da infância e da adolescência.
A dopamina é um neurotransmissor responsável, entre outros efeitos, por passar a sensação de prazer e de motivação às pessoas. Para que a dopamina tenha o seu efeito, ela é liberada por um neurônio e precisa ligar-se ao seu receptor específico que está no outro neurônio, durante a sinapse. Nos adolescentes ocorre algo importantíssimo e que precisa ser levado muito a sério: há uma redução de um terço (1/3) da quantidade de receptores de dopamina comparados a uma criança e como um dos sintomas clássicos dessa redução é o fato de o jovem se entediar com grande facilidade. Agora, para chegar aos mesmos níveis de satisfação de antes, o adolescente começa a buscar atividades desafiadoras e a correr riscos. Fica mais claro o interesse por jogos violentos, a direção em alta velocidade, à busca pelo sexo e o perigo das drogas? Claro, que há outros fatores associados, mas a redução dos receptores de dopamina está fortemente atrelada. Perceba que na infância a dopamina estava lá e o seu receptor também, logo as sensações de prazer e motivação eram o resultado óbvio dessa combinação, mas na adolescência a mudança do cenário dopaminérgico também trará resultados óbvios: a dopamina está lá, mas como parte dos seus receptores não estão outras formas de prazer serão buscadas.
Quando explico isso em cursos e aulas é quase unânime a clamação dos alunos em solicitar que os receptores de dopamina sejam repostos (risos). Não, ele não será, e, aliás, que bom que não são, porque embora pareça algo ruim, essa redução é uma conquista! A redução dos receptores nos remete as escolhas, novas descobertas. A atenção que deve ser dada aos adolescentes é que as decisões de risco ainda são perigosas porque o córtex pré-frontal, parte do encéfalo envolvida no planejamento de ações e movimentos, está imaturo nessa fase da vida e não é capaz de avaliar as consequências negativas das escolhas.
Portanto, família e escola: fiquem atentas aos nossos adolescentes, por mais que não pareça, eles o querem por perto, gostam de sentirem-se acolhidos e eles precisam de espaço para diálogo, diálogo e diálogo.
Observe que hoje só falamos sobre a redução dos receptores de dopamina e se você for sensível a essas mudanças, já é possível olhar diferente para esses jovens que precisam tanto de nós. Falaremos mais em breve.
Até mais 🙂