ADRIESSASANTOS.COM.BR https://adriessasantos.com.br Meu site Tue, 12 Nov 2024 22:18:59 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7 A Neurociência da leitura https://adriessasantos.com.br/a-neurociencia-da-leitura/ https://adriessasantos.com.br/a-neurociencia-da-leitura/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:38:43 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=83 Esse é um artigo que escrevi para a edição 81 da Revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa. Para ter acesso a revista e ao artigo completo, acesse o link:

https://www.escala.com.br/lingua-portuguesa-e-literatura-ed-81-p1347

Neurociência e leitura

          Ler não é algo que nosso cérebro nasce para fazer. Embora tenhamos uma capacidade inata de ouvir sons e ver imagens, para nossos ancestrais essas habilidades foram usadas para encontrar comida e atentar-se para possíveis perigos. Escrever em si é uma convenção feita pelo homem; nossos cérebros não estão preparados para criar palavras escritas ou decodificá-las. Essas são habilidades aprendidas. Só com essa informação já fica claro, porque aprender a ler é algo que exige muita dedicação.

          Há muitas regiões do cérebro envolvidas na leitura eficiente. Quando lemos há o estímulo e ativação de um importante número de processos mentais, entre os quais se destacam a percepção, a memória e o raciocínio.

          Entre as muitas áreas ativadas na leitura destacamos: os lobos occipital, parietal e temporal, ativados para ver e reconhecer o valor semântico das palavras, ou seja, o seu significado, além do processamento e discriminação dos sons. A área de Broca, encontrada no lobo frontal esquerdo, que tem a função de governar a produção da fala e a compreensão da linguagem. O giro angular e o supra-marginal, responsáveis por ligar diferentes partes do cérebro para que as formas das letras possam ser combinadas para formar palavras e o córtex frontal motor, ativado quando evocamos mentalmente os sons das palavras que lemos.

         As memórias evocadas pela interpretação do que foi lido ativam poderosamente o hipocampo e o lobo temporal. As narrativas e os conteúdos sentimentais do texto, seja ele ficcional ou não, ativam a amígdala e outras áreas emocionais do cérebro. O raciocínio sobre o conteúdo e a semântica do que foi lido ativa o córtex pré-frontal e a memória de trabalho, que é a que usamos para resolver problemas, planejar o futuro e tomar decisões. Estudos mostram que a ativação regular dessa área do cérebro desenvolve não apenas a capacidade de raciocinar, como também, a inteligência das pessoas.

         Em suma, a leitura é um dos melhores exercícios possíveis para a memória e para manter as capacidades mentais ativas e estimuladas. Por isso, destacamos alguns motivos para você investir nessa prática.  

Estímulo mental

          Estudos mostram que permanecer mentalmente estimulado pode retardar o progresso e reduzir os riscos de Alzheimer e demência. Isso porque o nosso cérebro tem um sistema de “use ou perca”, o que significa que as informações raramente acessadas e os comportamentos pouco usados causam uma diminuição dessas vias neurais até que as conexões possam ser completamente perdidas em um processo chamado “poda sináptica”. De fato, podemos contribuir inconscientemente para o declínio do nosso cérebro, sem desafiá-lo e atividades como a leitura estimulam o cérebro ativamente.

Redução de estresse

          Você já reparou como o estresse diminui quando você se perde em uma boa leitura? Caso não, vale a tentativa. Se você está procurando uma maneira de aliviar o estresse, pegue um livro e deixe sua mente esquecer seus problemas por um tempo.

          De acordo com um estudo, a leitura reduz os níveis de estresse em até 68%, números maiores do que ouvir música, tomar uma xícara de chá, jogar videogame ou passear. Os pesquisadores observaram que os participantes envolvidos em apenas seis minutos de leitura experimentaram batimentos cardíacos mais lentos e tensão muscular reduzida. Para um dos autores do estudo não importa qual livro você lê, já que ao se perder em um livro completamente cativante, você pode escapar das preocupações e tensões do mundo cotidiano e passar um tempo explorando o domínio da imaginação do autor. Isso é mais do que meramente uma distração, mas um engajamento ativo da imaginação, pois as palavras na página impressa estimulam sua criatividade e fazem você entrar no que é essencialmente um estado alterado de consciência.

 Habilidades sociais aprimoradas

          Para alguns, a leitura de livros é uma maneira de escapar do mundo real. Curiosamente, pesquisas mostram que a leitura pode realmente melhorar as habilidades sociais e ajudá-lo a lidar com essas pessoas. Um estudo descobriu que indivíduos que lêem ficção podem aumentar significativamente a capacidade de entender os estados mentais, crenças, desejos e pensamentos diferentes dos outros. Trata-se de uma habilidade essencial para relacionamentos sociais. Outro estudo constatou que os indivíduos que lêem ficção obtiveram maior pontuação nos testes de empatia do que aqueles que lêem não-ficção.

Melhoria da memória

          Quando você lê, seu cérebro está fazendo muito mais do que apenas decifrar palavras em uma página. Ler é mais exigente neurobiologicamente do que processar imagens ou fala. É um treino neural. Enquanto você lê, partes distintas do seu cérebro – como visão, linguagem e aprendizado associativo – trabalham juntas.

          A leitura, pode ajudar a proteger a memória e as habilidades de pensamento, especialmente à medida que envelhecemos. Pesquisadores sugerem que ler todos os dias pode retardar o declínio cognitivo no final da vida e diminuir a taxa de deterioração da memória e de outras capacidades mentais essenciais. 

Melhor sono

          Criar um ritual a noite é uma boa estratégia para pegar no sono e a leitura pode ser uma ótima companheira. Ler um livro não estressante sob uma luz suave pode fazer parte dessa rotina, mas escolha seu livro com sabedoria, já que fortes emoções ou grandes aventuras impressas no livro, podem ter o efeito inverso.

          Além disso, alguns estudos mostram que a leitura de livros físicos apresentam benefícios, quando comparados às telas que podem mantê-lo acordado por mais tempo e atrapalhar seu sono.

          Isso se aplica especialmente às crianças. Cinquenta e quatro por cento dos pequenos que dormem perto de uma tela pequena tem o sono diminuído em média de 20 minutos, de acordo com pesquisa.

Considerações finais

          Indiscutivelmente, a leitura faz bem para o cérebro. Sem falar na satisfação e no bem-estar proporcionado pelo conhecimento adquirido e como esse conhecimento se transforma em memória, que é o que temos como resultado da experiência. Cada pessoa deve escolher o tipo de leitura que mais a motiva e convém. As crianças devem ser estimuladas a ler com leituras adequadas às suas idades e os mais velhos devem providenciar toda a assistência que suas faculdades visuais necessitem para continuar lendo e mantendo seu cérebro estimulado à medida que envelhecem. Uma razão a mais para continuarmos a ler é a crença plausível de que não somos realmente velhos até que não comecemos a sentir que já não temos nada de novo para aprender.

Notas finais: O livro é um instrumento acessível e barato para o estímulo cerebral e que proporciona um excelente custo/benefício em todas as fases da vida, razão pela qual deveriam ser incluídos na educação desde a primeira infância e mantidos durante toda a vida.

Referências

How fiction might improve empathy. Disponível em https://www.medicalnewstoday.com/articles/311773.php#1.

KIDD, David Comer., CASTANO, Emanuele. Reading Literary Fiction Improves Theory of Mind. Sciencexpress, 2013.

]]>
https://adriessasantos.com.br/a-neurociencia-da-leitura/feed/ 0
É chegada a temida hora: o cérebro do adolescente. O dossiê – parte 1, 2 e 3 https://adriessasantos.com.br/e-chegada-a-temida-hora-o-cerebro-do-adolescente-o-dossie-parte-1-2-e-3/ https://adriessasantos.com.br/e-chegada-a-temida-hora-o-cerebro-do-adolescente-o-dossie-parte-1-2-e-3/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:37:58 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=81 Se você atribui os comportamentos típicos dos adolescentes à explosão dos hormônios característicos dessa fase, acertou em partes, porque se tem um momento em nossa vida que passa por mudanças, ele é chamado de adolescência. Mas acredite, é uma das fases mais bonitas que temos e a neurociência nos ajuda a compreender isso.

Para iniciarmos a nossa conversa, vamos voltar alguns anos antes quando o adolescente ainda era criança e você o convidava para ir à casa da avó, tomar sorvete, passear… Qual era a resposta? “Ebaa!” E tudo era uma festa e motivo de alegria. Agora faça as mesmas propostas para um adolescente e provavelmente terá como retorno além de um “Aff” uma bufada junto com uma virada de olho.

Adriessa, o que houve com aquela criança amorosa, que gostava de estar com a família e que tudo era muito legal? Ela ainda está aí, fique tranquilo, mas como já mencionado uma série de mudanças nessa fase resultarão em mudanças de comportamento e algumas dessas alterações estão associadas à perda de receptores de dopamina entre os períodos da infância e da adolescência.

A dopamina é um neurotransmissor responsável, entre outros efeitos, por passar a sensação de prazer e de motivação às pessoas. Para que a dopamina tenha o seu efeito, ela é liberada por um neurônio e precisa ligar-se ao seu receptor específico que está no outro neurônio, durante a sinapse. Nos adolescentes ocorre algo importantíssimo e que precisa ser levado muito a sério: há uma redução de um terço (1/3) da quantidade de receptores de dopamina comparados a uma criança e como um dos sintomas clássicos dessa redução é o fato de o jovem se entediar com grande facilidade. Agora, para chegar aos mesmos níveis de satisfação de antes, o adolescente começa a buscar atividades desafiadoras e a correr riscos. Fica mais claro o interesse por jogos violentos, a direção em alta velocidade, à busca pelo sexo e o perigo das drogas? Claro, que há outros fatores associados, mas a redução dos receptores de dopamina está fortemente atrelada. Perceba que na infância a dopamina estava lá e o seu receptor também, logo as sensações de prazer e motivação eram o resultado óbvio dessa combinação, mas na adolescência a mudança do cenário dopaminérgico também trará resultados óbvios: a dopamina está lá, mas como parte dos seus receptores não estão outras formas de prazer serão buscadas.

Quando explico isso em cursos e aulas é quase unânime a clamação dos alunos em solicitar que os receptores de dopamina sejam repostos (risos). Não, ele não será, e, aliás, que bom que não são, porque embora pareça algo ruim, essa redução é uma conquista! A redução dos receptores nos remete as escolhas, novas descobertas. A atenção que deve ser dada aos adolescentes é que as decisões de risco ainda são perigosas porque o córtex pré-frontal, parte do encéfalo envolvida no planejamento de ações e movimentos, está imaturo nessa fase da vida e não é capaz de avaliar as consequências negativas das escolhas.

Portanto, família e escola: fiquem atentas aos nossos adolescentes, por mais que não pareça, eles o querem por perto, gostam de sentirem-se acolhidos e eles precisam de espaço para diálogo, diálogo e diálogo.

Observe que hoje só falamos sobre a redução dos receptores de dopamina e se você for sensível a essas mudanças, já é possível olhar diferente para esses jovens que precisam tanto de nós. Falaremos mais em breve.

Durante muito tempo, acreditou-se que logo no fim da infância o desenvolvimento do encéfalo já estava pronto. No entanto, a chegada das técnicas de imageamento cerebral, morfológico e funcional, mudaram esse cenário e trouxeram novas pesquisas sobre a neurociência do adolescente.

“A adolescência é um estado do cérebro, não mais criança, mas também não ainda adulto” é o que diz a neurocientista Suzana Herculano no livro O cérebro em transformação. E o que acontece então?

Como vimos na primeira parte do nosso dossiê, a redução de 1/3 dos receptores de dopamina tem uma parcela importante na mudança perceptível dos adolescentes, mas tem muito mais J.

Já para desmistificar a crença da maturação encefálica no fim da infância, hoje sabe-se que tanto o volume quanto a mielinização aumentam até por volta dos 30 anos. Estudos desde a década de 90, que acompanharam o desenvolvimento da criança durante vários anos, mostraram que o cérebro do adolescente está longe da maturidade. A descoberta da proliferação de um grande número de neurônios, que relaciona-se com algumas das maiores funções mentais, ocorre nos últimos anos da adolescência.

A imagem a seguir mostra o processo contínuo de desenvolvimento do cérebro até o início da vida adulta. Na escala de cor, o vermelho significa maior quantidade de sinapses e o azul, menor. A descoberta revolucionou a forma como se via o cérebro, pois como supracitado acreditava-se que ele atingia sua maturidade ainda na infância. Na verdade, o desenvolvimento continua até bem depois dos 20 anos.

E as explicações continuam:

Você já reparou que o adolescente tropeça em tudo e costuma se olhar com frequência nos espelhos? Isso se deve porque uma área conhecida como giro pós central não acompanhada o crescimento acelerado do adolescente e fica meio “confuso”. Essa região, que pertence ao chamado córtex parietal, que fica no topo na cabeça, um pouco mais para trás do que a posição tradicional de uma tiara, é responsável pelas representações que o cérebro faz do corpo, ou seja, desde as mãos, os pés, os olhos, a boca, ou seja, tudo aquilo que se faz questão de sentir ou controlar é registrado aí.  Na infância, o giro pós central tem tempo para se adaptar ao gradativo crescimento das crianças, mas como na adolescência as coisas são diferentes, é bastante comum vê-los tropeçando nas próprias pernas por um erro de cálculo cerebral com relação a seus membros ou mesmo fiquem se olhando no espelho, como citado logo no início.  Aliás, está aí uma boa estratégia: espelhos, pois permite que os estímulos visuais ajudem o cérebro a se adequar às modificações no corpo.

As regiões posteriores, que tem função sensorial e recebem os sentidos e os processam antes de encaminhar o resultado para as regiões frontais do encéfalo, são as primeiras a passarem pelo processo de enxugamento sináptico e amadurecimento.  Por sua vez, o córtex pré frontal, localizado logo atrás da testa, é a última área a amadurecer e tem relação com os comportamentos tipicamente de adultos, como capacidade de planejamento, concentração, inibição de impulsos e empatia.

Com o amadurecimento dessa área o adolescente vai se aproximando do mundo adulto, embora de maneira não muito suave. Nessa fase, começam a se desenvolver o comportamento autorreflexivo, a autorregulação e o raciocínio, levando a uma maior consciência crítica de si e dos outros. Por isso, eles tendem a ver incongruências no mundo dos adultos. Se, por um lado, a maturidade emocional do adolescente oscila, é nessa fase também que ele passa a possuir ferramentas que o preparam para a vida adulta. Surge a capacidade de tomar decisões, julgar e planejar. Falando nisso, a amígdala, que tem importante relação com as emoções, é a sede de sentimentos primitivos de medo e raiva. Ao processarem informações emocionais, os adolescentes tendem a contar mais com a amígdala, ao contrário dos adultos, que dependem mais do córtex pré-frontal. E falando no pré-frontal, lá existe uma região chamada córtex orbitofrontal (localizada atrás dos olhos), que é a última da última a amadurecer e promove as capacidades de usar emoções para nortear decisões e de criar empatia pelos outros – características fundamentais da vida adulta.

Bom, sabe aquele jeito de pensar e fazer dos adolescentes sem medir as consequências, que vemos e nos perguntamos “é isso mesmo produção?”. Pois bem, o amadurecimento tardio do córtex pré frontal, bem como alguma das outras mudanças que vimos por aqui pode nos ajudar a entender esse e outros comportamentos típicos dos adolescentes.

Visto tudo isso, agora é a sua hora de colocar o pré frontal para funcionar: será mesmo que essa garotada está somente querendo nos irritar? Claro que há uma série de atitudes que não são justificadas e que estão fortemente relacionadas com o meio e as próprias particularidades de cada um, mas se pudermos levar todas essas informações, características dessa faixa etária em consideração, eu garanto que o seu olhar para o adolescente pode mudar e consequentemente a vida dele também.

Até logo 🙂

]]>
https://adriessasantos.com.br/e-chegada-a-temida-hora-o-cerebro-do-adolescente-o-dossie-parte-1-2-e-3/feed/ 0
O cérebro da criança https://adriessasantos.com.br/o-cerebro-da-crianca/ https://adriessasantos.com.br/o-cerebro-da-crianca/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:36:24 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=79 Exuberância sináptica. Essa é uma das expressões que vai definir o cérebro da criança. Mas só isso Adriessa? Olha, estou para te dizer que praticamente é isso mesmo, mas a compreensão do que tudo isso significa é o que caracteriza as inúmeras possibilidades de aprendizado nessa faixa etária.

Vamos recordar: sinapse é o nome que se dá à comunicação entre os neurônios, que permite a transferência de informações (neurotransmissores). É a nossa conhecida “fofoca” entre os neurônios. Sim, porque como já dissemos por aqui, os neurônios “falam” muito uns com os outros, criando uma rede neural responsável por tudo que pensamos e também pelo que ocorre sem que precisemos pensar. Para se ter uma ideia, cada neurônio pode fazer, em média, 10 mil sinapses. Contando que temos aí por volta de 85 bilhões de neurônios, dá para fazer uma conta boa não acham?

Certo Adriessa, então é por isso que você fala em exuberância sináptica, porque os 85 bilhões de neurônios podem fazer até umas 10 mil sinapses cada um? Não! E é aqui que está a grande sacada.

No cérebro da criança há muito mais sinapses do que no cérebro adulto, praticamente o dobro. Isso vai refletir em um mar de possibilidades, mas nada realmente muito consolidado. As redes neurais, com esse excesso de falação interna, ainda estão em franca formação. “Sinal de… imaturidade”, como descreve a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “De fato, o desenvolvimento normal envolve uma primeira etapa de exuberância sináptica, atingida no ser humano durante os primeiros anos de vida. Nesse período, formam-se tantas novas sinapses no cérebro do bebê que, aos 12 meses, ele chega a possuir o dobro de sinapses do cérebro adulto – e para o mesmo número de neurônios”, diz Suzana.

Uma de minhas alunas, Luciana Holler, faz uma analogia que gosto muito: “Quando penso no cérebro de uma criança, lembro-me de um cardume de sardinhas! Peixinhos pequenos que nadam em grandes grupos pelas profundezas do oceano e mudam juntas de direção num piscar de olhos! Antenadas sempre! Um lindo espetáculo!”

Eu gosto de falar que o cérebro da criança é um “livro aberto”, o que não significa que ele esteja em branco, sem nada, pelo contrário.  Mas sim, que há inúmeras possibilidades de preenchimento dessas páginas, que mais tarde serão selecionadas.

Por muito tempo acreditou-se que essa fase de exuberância sináptica ocorresse só até os três anos, o que criou o mito de que o período de formação de uma criança ocorre mesmo nessa época e que pouco poderá ser feito pelos pais depois disso para influenciar em seu comportamento. Já falamos sobre isso aqui. No entanto, estudos de imageamento cerebral, mostraram que a fase de exuberância sináptica continua até o início da adolescência e só então começa a ser reduzido nas regiões do córtex – e em cada região num momento diferente. É a partir dessa fase que o cérebro começa a ser verdadeiramente moldado – as sinapses em excesso, que compõem, junto com os neurônios, a chamada massa cinzenta do cérebro, começam a sumir, deixando apenas aquelas que foram mais utilizadas ao longo da infância. Por essa razão é tão mais fácil aprender coisas novas na infância do que mais tarde – será esse aprendizado, que pode envolver desde a prática de esportes ao conhecimento de línguas, que definirá quais sinapses sobrarão e quais sumirão.

Nesse ponto podemos fazer uma reflexão interessante. Se o cérebro da criança apresenta exuberância sináptica e isso significa muitas possibilidades de conexões e de novos aprendizados e com a chegada da adolescência essas sinapses são selecionadas, de forma a manterem-se somente aquelas que foram mais utilizadas, pergunto: quais sinapses estamos formando em nossas crianças e que serão selecionadas mais tarde? Porque quando falamos dessa seleção nos referimos a todo tipo de aprendizado e isso inclui tudo mesmo…

Até a próxima 🙂

]]>
https://adriessasantos.com.br/o-cerebro-da-crianca/feed/ 0
A Neurociência vai a creche https://adriessasantos.com.br/a-neurociencia-vai-a-creche/ https://adriessasantos.com.br/a-neurociencia-vai-a-creche/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:35:56 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=77 O que a Neurociência diz a respeito do cérebro das crianças que estão nas creches? Este é um lugar, apenas, de cuidados ou deve-se preocupar com o desenvolvimento das crianças? Hoje, falaremos um pouco sobre esse assunto. Vamos lá?

 Os primeiros anos de vida são um momento de intenso desenvolvimento cerebral em que são formadas conexões neurais, sobretudo de áreas corticais responsáveis por processamentos de estímulos sensoriais (visão, audição) e regiões relacionadas à linguagem. Essas conexões serão à base do desenvolvimento cognitivo ao longo da vida. Daí a importância de atividades com estímulos variados, sonoros, visuais, táteis para apoiar o desenvolvimento infantil adequado.

Este é um vídeo bem bacana que fala sobre isso. Vale a pena ver!

]]>
https://adriessasantos.com.br/a-neurociencia-vai-a-creche/feed/ 0
Aprendizagem e Emoção https://adriessasantos.com.br/aprendizagem-e-emocao/ https://adriessasantos.com.br/aprendizagem-e-emocao/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:35:21 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=75 Como já vimos em um dos nossos artigos, para que a aprendizagem ocorra é necessário amassar o mato, ou seja, revisitar o conteúdo de diferentes formas. No entanto, uma pergunta ficou no ar: há coisas que conseguimos aprender de primeira, o que ocorre nesses casos?

Para começar quero que você pense em duas situações: o nascimento de um filho e a perda de um ente querido. Certamente, em ambos os casos você descreveria com riqueza de detalhes, mas por quê? E o que essas situações trazem como ponto comum? Sim, emoção é a resposta.

Nos dois casos não foi necessário à repetição dos fatos para que os mesmos fossem lembrados e isso se dá porque a carga emocional envolvida foi tão grande, que permitiu a consolidação de primeira.

Lá na sala de aula a conversa não será diferente. Caso haja emoção o processo de aprendizagem será muito facilitado. Puxe aí da sua memória e recorde aqueles assuntos que você só precisou de uma aula para aprender e perceba que há emoção envolvida. Mas tem um detalhe importante: emoção pode ser boa ou ruim, lembra-se do exemplo acima? Então, se o seu professor fez alguma atividade diferenciada pode ser o motivo de você não ter mais esquecido daquele assunto, mas se ele tinha o perfil chamada-oral-surpresa, essa também pode ser a resposta para você se lembrar dele até hoje!

O que devemos fazer então? Segundo a professora Leonor Guerra, as situações que favorecem a aprendizagem são aquelas prazerosas, motivadoras, que produzam curiosidade e expectativas, sejam desafiadoras, seguidas de sensações de bem estar pela solução das questões, permeadas por afeto ou até mesmo por pequeno e transitório estresse, como em casos de tarefas difíceis, mas possíveis. A ativação de circuitos neurais de prazer e recompensa no aluno, o fará perder o medo de errar, mas para isso é importante que o aluno perceba que o que ele aprendeu dá bons resultados, transforma o seu dia a dia, atende às suas necessidades, facilita a sua vida e a torna melhor.

Bom, mas antes que você questione que tudo isso dá muito trabalho, pense em atitudes como um tom de voz diferenciado em diferentes momentos da aula, dinamizar conteúdos com objetos que estejam na sala e sejam dos próprios alunos como fones de ouvido, carregadores de celular e estojo para explicar assuntos diversos (eu adoro fazer

isso quando vou falar de DNA. Dois fones de ouvido viram a dupla hélice, eles adoraram!).

Por fim, você já deve ter ouvido falar que o bocejo é contagioso certo? Pois bem, a sua cara feia também, então quando você questionar que a sua turma é mal humorada, apática e afins dê uma olhadinha no espelho 😉 vamos falar disso em breve!

Para fortalecer a sinapse: nós aprendemos aquilo que nos emociona. As emoções indicam para o cérebro o que é relevante à sobrevivência do indivíduo e o que vale o esforço e gasto energético necessário à aprendizagem. Então fica a dica: pense nisso quando for ensinar alguém.

]]>
https://adriessasantos.com.br/aprendizagem-e-emocao/feed/ 0
Como o cérebro aprende? Parte 2 – As sinapses https://adriessasantos.com.br/como-o-cerebro-aprende-parte-2-as-sinapses/ https://adriessasantos.com.br/como-o-cerebro-aprende-parte-2-as-sinapses/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:34:58 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=73 No nosso cérebro há milhões de células chamadas de neurônios, que conversam umas com as outras. A esse bate papo constante damos o nome de sinapses. E o que esses neurônios tanto conversam? Ah, são muitas coisas, muitas mesmo e são os resultados dessas conversas que são as responsáveis pelos nossos comportamentos, pensamentos, enfim. Ao “teor” dessas conversas damos o nome de neurotransmissores.

Quando todos esses neurônios estão comunicando-se entre si (sinapses) por meio da liberação dos neurotransmissores, temos uma rede neural. É como se fosse uma teia de aranha.

A rede neural (teia de aranha) já está pronta no nosso encéfalo após certa fase de amadurecimento, e a cada caminho que eu possa percorrer por ela (que são quase infinitos) eu tenho a possibilidade de aprender alguma coisa. Todas as vezes que os meus neurônios conversam pela primeira vez em um determinado ponto da rede neural eu realizo uma sinapse nova, que pode ser perdida ou fortalecida. E o que faz essa sinapse ser perdida ou fortalecida? O número de vezes que eu retomar esse caminho, ou seja, ativar os mesmos neurônios.

E qual a vantagem de uma sinapse fortalecida? Uma sinapse fortalecida e consolidada (processo que vai ocorrer durante o sono) permite novos aprendizados e novas conexões com outras já existentes.

E o papo da mata e da trilha? Aqui está a analogia: assim como na mata fechada, a formação das trilhas só ocorrerá se houver a persistência de passar pelo mesmo caminho. Conosco não será diferente: quando, por exemplo, vemos um determinado assunto pela primeira vez ocorrem sinapses no nosso cérebro. Caso não tenhamos mais contato com esse assunto, o que provavelmente ocorrerá? Ela se perderá, assim como as trilhas…

Agora se você revisitar esse conteúdo, preferencialmente de formas diferentes, a chance dessa sinapse ser fortalecida é muito maior, assim como as trilhas…

Ou seja, para aprender é preciso de estímulo, revistar o conteúdo, vê-lo por diferentes abordagens.

Mas Adriessa, fiquei com uma dúvida: assim como é possível formar uma trilha de primeira, também é possível aprender determinado assunto logo de cara, não é?

Bingo! Sim, é possível e talvez esse seja um dos segredinhos para a sala de aula, mas esse assunto vamos ver no nosso próximo encontro 😉

Então até lá, amassem os seus matos, ou melhor, fortaleçam as suas sinapses!

]]>
https://adriessasantos.com.br/como-o-cerebro-aprende-parte-2-as-sinapses/feed/ 0
Como o cérebro aprende? Parte 1 – Amassar o mato https://adriessasantos.com.br/como-o-cerebro-aprende-parte-1-amassar-o-mato/ https://adriessasantos.com.br/como-o-cerebro-aprende-parte-1-amassar-o-mato/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:34:16 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=71 Nesse artigo (parte 1) vamos entender de forma bastante simplificada como ocorre à aprendizagem. Isso quer dizer que primeiro vamos fazer algumas analogias e na sequência estudaremos as questões biológicas, ok?

Então vamos lá! Preciso que usem a imaginação comigo.

Imaginem uma mata fechada e o meu objetivo nela é a formação de uma trilha. Ok? Agora pergunto: é possível formar uma trilha em uma mata fechada? Caso tenha respondido, “até dá, mas …” você está certo! Sim, é possível formar uma trilha em uma mata fechada, mas para isso é necessário certo esforço.

Caso eu caminhe uma única vez por essa mata fechada, já significa que eu formei uma trilha? Dificilmente. O que eu posso ter conseguido com isso é amassar um pouco de mato, certo? Porque se eu voltar lá no outro dia, ou mesmo algumas horas depois, provavelmente esse mato já tenha voltado ao normal.

O que eu devo fazer então? Caso tenha pensado, “passar várias vezes”, acertou em cheio. Se eu passar uma única vez nesse caminho é bem provável que a formação da trilha seja bem dificultada, mas se eu passar repetidas vezes pelo mesmo trajeto a chance da trilha se formar é bem maior. E quantas vezes eu preciso passar? Quantas vezes forem necessárias…

Bom, nesse ponto você deve estar se perguntando. Qual a relação da tal da mata e da formação de trilhas com o processo de aprendizado no cérebro? Toda! Vamos lá para a parte 2 do artigo 🙂

]]>
https://adriessasantos.com.br/como-o-cerebro-aprende-parte-1-amassar-o-mato/feed/ 0
O que é essa tal de Neurociência na escola? https://adriessasantos.com.br/o-que-e-essa-tal-de-neurociencia-na-escola/ https://adriessasantos.com.br/o-que-e-essa-tal-de-neurociencia-na-escola/#respond Tue, 12 Nov 2024 20:32:48 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=69 Antes de iniciarmos a nossa conversa sobre como a Neurociência pode de fato ser aplicada na Escola, é importante deixarmos claro, o que faz dessa ciência merecer destaque em dias atuais.

Para isso vamos começar com uma analogia. Pensem: qual é o principal instrumento de trabalho de um médico? Bom, se você pensou em um bisturi ou um estetoscópio não errou, mas a ideia nesse caso é outra. Agora se você respondeu que é o corpo humano, acertou em cheio! Certamente você não faria uma cirurgia no coração com um médico que não entende muito de sistema circulatório, certo? Pois bem, vamos para outra: qual é o instrumento de trabalho de uma manicure? Provavelmente você já pensou nas unhas como resposta, ao invés de ir direto para a lixa e o alicate.  Agora vamos a grande pergunta: qual o principal instrumento de trabalho de um professor? Será mesmo, que a sua resposta foi giz, lousa, apagador, livros, conhecimento… na verdade, o grande instrumento de trabalho de um professor em sala de aula é o aluno, mais precisamente a “cabecinha” dele. Agora faço uma pergunta final: professor, você conhece o seu principal instrumento de trabalho? É disso que estamos falando quando nos referimos às aplicações da Neurociência na Escola.

Podemos definir a Neurociência de forma bem generalista, como aquela que se dedica ao estudo do sistema nervoso, mas é importante ressaltar que esses conhecimentos não são específicos para a educação, eles na verdade, ganham cada vez mais notoriedade por conta das inúmeras contribuições que podem ofertar.

Daremos vários exemplos nos nossos encontros por aqui, mas por ora há algo que precisa ficar bem claro: a Neurociência não trará a desejada “receita de bolo”, sabe aquela que resolverá “todos” os problemas da sala de aula? Definitivamente não! Ela atuará como uma ferramenta nas suas práticas de ensino. Mas há algo que eu posso te garantir: você nunca mais olhará um aluno do mesmo jeito depois de entender o que de fato se passa na “cabeça” dele … ah e na sua também!

Quer entender mais sobre esse assunto? Espero você aqui.

]]>
https://adriessasantos.com.br/o-que-e-essa-tal-de-neurociencia-na-escola/feed/ 0
Hello world! https://adriessasantos.com.br/hello-world/ https://adriessasantos.com.br/hello-world/#comments Mon, 11 Nov 2024 23:31:41 +0000 https://adriessasantos.com.br/?p=1 Welcome to WordPress. This is your first post. Edit or delete it, then start writing!

]]>
https://adriessasantos.com.br/hello-world/feed/ 1