Adriessa - Neurociência e Educação

O cérebro da criança

Exuberância sináptica. Essa é uma das expressões que vai definir o cérebro da criança. Mas só isso Adriessa? Olha, estou para te dizer que praticamente é isso mesmo, mas a compreensão do que tudo isso significa é o que caracteriza as inúmeras possibilidades de aprendizado nessa faixa etária.

Vamos recordar: sinapse é o nome que se dá à comunicação entre os neurônios, que permite a transferência de informações (neurotransmissores). É a nossa conhecida “fofoca” entre os neurônios. Sim, porque como já dissemos por aqui, os neurônios “falam” muito uns com os outros, criando uma rede neural responsável por tudo que pensamos e também pelo que ocorre sem que precisemos pensar. Para se ter uma ideia, cada neurônio pode fazer, em média, 10 mil sinapses. Contando que temos aí por volta de 85 bilhões de neurônios, dá para fazer uma conta boa não acham?

Certo Adriessa, então é por isso que você fala em exuberância sináptica, porque os 85 bilhões de neurônios podem fazer até umas 10 mil sinapses cada um? Não! E é aqui que está a grande sacada.

No cérebro da criança há muito mais sinapses do que no cérebro adulto, praticamente o dobro. Isso vai refletir em um mar de possibilidades, mas nada realmente muito consolidado. As redes neurais, com esse excesso de falação interna, ainda estão em franca formação. “Sinal de… imaturidade”, como descreve a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “De fato, o desenvolvimento normal envolve uma primeira etapa de exuberância sináptica, atingida no ser humano durante os primeiros anos de vida. Nesse período, formam-se tantas novas sinapses no cérebro do bebê que, aos 12 meses, ele chega a possuir o dobro de sinapses do cérebro adulto – e para o mesmo número de neurônios”, diz Suzana.

Uma de minhas alunas, Luciana Holler, faz uma analogia que gosto muito: “Quando penso no cérebro de uma criança, lembro-me de um cardume de sardinhas! Peixinhos pequenos que nadam em grandes grupos pelas profundezas do oceano e mudam juntas de direção num piscar de olhos! Antenadas sempre! Um lindo espetáculo!”

Eu gosto de falar que o cérebro da criança é um “livro aberto”, o que não significa que ele esteja em branco, sem nada, pelo contrário.  Mas sim, que há inúmeras possibilidades de preenchimento dessas páginas, que mais tarde serão selecionadas.

Por muito tempo acreditou-se que essa fase de exuberância sináptica ocorresse só até os três anos, o que criou o mito de que o período de formação de uma criança ocorre mesmo nessa época e que pouco poderá ser feito pelos pais depois disso para influenciar em seu comportamento. Já falamos sobre isso aqui. No entanto, estudos de imageamento cerebral, mostraram que a fase de exuberância sináptica continua até o início da adolescência e só então começa a ser reduzido nas regiões do córtex – e em cada região num momento diferente. É a partir dessa fase que o cérebro começa a ser verdadeiramente moldado – as sinapses em excesso, que compõem, junto com os neurônios, a chamada massa cinzenta do cérebro, começam a sumir, deixando apenas aquelas que foram mais utilizadas ao longo da infância. Por essa razão é tão mais fácil aprender coisas novas na infância do que mais tarde – será esse aprendizado, que pode envolver desde a prática de esportes ao conhecimento de línguas, que definirá quais sinapses sobrarão e quais sumirão.

Nesse ponto podemos fazer uma reflexão interessante. Se o cérebro da criança apresenta exuberância sináptica e isso significa muitas possibilidades de conexões e de novos aprendizados e com a chegada da adolescência essas sinapses são selecionadas, de forma a manterem-se somente aquelas que foram mais utilizadas, pergunto: quais sinapses estamos formando em nossas crianças e que serão selecionadas mais tarde? Porque quando falamos dessa seleção nos referimos a todo tipo de aprendizado e isso inclui tudo mesmo…

Até a próxima 🙂

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