Adriessa - Neurociência e Educação

Os quatro pilares da aprendizagem: o que o cérebro nos ensina sobre aprender

O neurocientista francês Stanislas Dehaene, propôs uma compreensão da aprendizagem baseada em quatro pilares fundamentais: atenção, engajamento ativo, feedback e consolidação, que juntos ajudam a entender não só como o cérebro aprende, mas o que ele precisa para continuar aprendendo bem ao longo da vida.

Mais do que uma lista de recomendações, os pilares nos convidam a pensar a aprendizagem como um processo vivo, profundamente humano, marcado por interação, emoção e contexto. 

1. Atenção: o portal da aprendizagem

Para aprender, é preciso estar disponível. Mas atenção não é só foco: é seleção, é filtragem. O cérebro precisa escolher o que priorizar diante de tantos estímulos. A atenção pode ser guiada por novidade, emoção, relevância ou, como a gente vê em sala, por uma pergunta bem colocada, uma imagem inesperada, uma situação que faz sentido para aquele grupo. Professores e professoras atuam como condutores dessa atenção, criando ambientes que favorecem o interesse e o envolvimento. Isso implica conhecer os estudantes, reconhecer suas culturas e afetos, e construir significados compartilhados.

2. Engajamento ativo: aprender é agir

O cérebro aprende melhor quando participa. Em vez de ser um receptor passivo de informações, ele precisa testar, explorar, errar, comparar. Aqui mora uma das pontes mais bonitas com a prática docente: propor desafios, promover a curiosidade, valorizar o pensamento em construção. Atividades práticas, projetos colaborativos, rodas de conversa são formas de colocar o cérebro em ação, porque respeitam a forma como o cérebro naturalmente aprende. Aprender com autoria é mais do que decorar conteúdos é construir sentidos.

3. Feedback: o cérebro aprende com o erro (e com o acerto também)

Receber retorno imediato e significativo permite ao cérebro ajustar rotas. O erro, longe de ser um problema, é parte do processo. O importante é criar um ambiente em que errar não seja motivo de medo, mas uma etapa esperada da aprendizagem. Os feedbacks podem vir de colegas, da mediação do professor ou da própria atividade (como num jogo ou experimento). Aqui, o papel docente é fundamental: transformar o retorno em oportunidade, sem hierarquizar saberes ou desmotivar o estudante. Aqui, o jeito de falar, o tom, a escuta, faz diferença.

4. Consolidação: dormir, revisar, revisitar

Aprender exige tempo. O cérebro precisa consolidar as informações novas, e isso acontece especialmente durante o sono e por meio da repetição espaçada. Revisitar ideias em diferentes momentos, contextos e formatos ajuda o conhecimento a consolidar-se de forma mais duradoura. Em sala, isso pode acontecer por meio de retomadas leves no início das aulas, conexões entre temas, ou mesmo por práticas metacognitivas simples, como perguntar: o que você levaria dessa aula para a vida?. E, claro, as pausas intencionais e o sono de qualidade são extremamente importantes. 

Em resumo, os pilares de Dehaene não são uma receita, mas uma lente para entender o que favorece o aprendizado. Eles dialogam com saberes construídos na prática e também com teorias que há muito tempo já defendem uma educação mais humana, ativa e sensível.

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