Adriessa - Neurociência e Educação

Será que estamos ajudando demais? Vamos conversar sobre autonomia

Em um mundo cada vez mais ansioso por resultados imediatos, o desenvolvimento da autonomia infantil pode parecer algo demorado demais. Mas a ciência tem nos mostrado o contrário: promover a autonomia desde cedo é um dos caminhos mais potentes para formar crianças seguras, resilientes e preparadas para os desafios da vida.

Diversas pesquisas têm demonstrado que incentivar a autonomia desde os primeiros anos de vida fortalece habilidades fundamentais como autorregulação, criatividade, empatia, planejamento, memória e tomada de decisão. Esses aspectos fazem parte do que chamamos de funções executivas, um conjunto de habilidades que sustentam o aprendizado, a convivência e o desenvolvimento emocional.

Permitir que uma criança tente, erre, se frustre e tente de novo é dar a ela a oportunidade de construir estratégias de enfrentamento e desenvolver confiança em si mesma. Atitudes simples, como deixá-la guardar seus brinquedos, escolher a roupa que vai usar ou participar das tarefas da casa, fortalecem sua independência e mostram que ela é parte ativa do ambiente em que vive. É isso que molda, no dia a dia, uma criança mais segura e preparada para o mundo.

Por outro lado, a superproteção, embora muitas vezes venha do amor e do desejo de proteger, pode ter efeitos indesejados. Quando um adulto faz tudo por uma criança, impede que ela desenvolva habilidades importantes para lidar com frustrações, resolver problemas ou confiar em suas próprias decisões. O excesso de intervenção pode estar associado a dificuldades emocionais, como impulsividade e comportamentos desafiadores.

É importante lembrar que autonomia não é ausência de cuidado. Muito pelo contrário. Autonomia se constrói quando o cuidado se transforma em presença que apoia, escuta e confia. Um cuidado que não apressa, mas acompanha. 

Rotinas previsíveis, ambientes organizados e tempo para brincar livremente também fazem parte desse processo. O tédio, por exemplo, não precisa ser temido, ele pode ser uma porta de entrada para a criatividade, para a resolução de problemas e para o fortalecimento da independência. E as brincadeiras de faz de conta, especialmente quando compartilhadas com outras crianças, desenvolvem não só a imaginação, mas também a empatia, o controle inibitório e as habilidades sociais.

Estimular a autonomia é oferecer à criança a chance de crescer por dentro, de confiar em sua própria capacidade e de construir um jeito singular de estar no mundo. Autonomia se aprende e se aprende melhor quando alguém acredita na gente.

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