O que a Neurociência diz a respeito do cérebro das crianças que estão nas creches? Este é um lugar, apenas, de cuidados ou deve-se preocupar com o desenvolvimento das crianças? Hoje, falaremos um pouco sobre esse assunto. Vamos lá?
Os primeiros anos de vida são um momento de intenso desenvolvimento cerebral em que são formadas conexões neurais, sobretudo de áreas corticais responsáveis por processamentos de estímulos sensoriais (visão, audição) e regiões relacionadas à linguagem. Essas conexões serão à base do desenvolvimento cognitivo ao longo da vida. Daí a importância de atividades com estímulos variados, sonoros, visuais, táteis para apoiar o desenvolvimento infantil adequado.
Este é um vídeo bem bacana que fala sobre isso. Vale a pena ver!
Bilhões de conexões entre os neurônios estão presentes no cérebro nessa fase e são essas conexões, que permitem a comunicação ultrarrápida entre as células especializadas em diferentes funções neurais. Os primeiros anos de vida da infância são o período em que essas conexões se formam de maneira mais ativa – ainda que novas conexões possam ser criadas ao longo de toda a vida do ser humano. É como se o cérebro nessa fase fosse uma esponja, ou seja, ele é capaz de reter muitas das informações do meio.
Nos primeiros anos, 700 novas conexões entre neurônios são criadas por segundo! Esse número cai ao longo da vida e as ligações passam a ser em menor número e em circuitos mais complexos criados sobre as conexões já existentes. Assim, o cérebro passa a ter menor capacidade de se reorganizar e se adaptar a novos e inesperados desafios. Importante ressaltar aqui, que é menor capacidade e não capacidade nula, ok?
O que faz da infância um momento chave para o desenvolvimento cerebral é que serão essas conexões formadas no início da vida que criarão uma base para as futuras ligações neurais. Vejam como essa informação é valiosa! Saber disso é o que pode tornar essa fase muito rica para o desenvolvimento da criança, ou muito perigosa, dependendo de como as estimulamos.
Gosto muito da definição do professor Antonio Augusto Batista (UFMG) que diz: “Uma educação infantil de qualidade tem intencionalidade e isso é marcado por um currículo com objetivos claros”. Ou seja, é preciso reverter à visão de que a creche é um lugar para que as crianças sejam apenas cuidadas enquanto os responsáveis trabalham – e não um espaço educacional, como prevê a Lei de Diretrizes e Bases – já que isso favorece a abertura de centros infantis com poucos professores, com formação inadequada e baixa remuneração, sem planejamento pedagógico e condições precárias de mobiliário e materiais.
Estímulos bem planejados no momento em que o cérebro está em pleno desenvolvimento podem reduzir a desigualdade no aprendizado anos mais tarde, sobretudo para crianças que crescem em ambientes socialmente vulneráveis. Em contrapartida, uma educação de má qualidade pode aprofundar diferenças ainda maiores.
Para finalizar, quero deixar aqui a frase do professor Daniel Santos, autor de estudos sobre o impacto das creches e da pré-escola sobre o aprendizado futuro. Ele diz:
“Creche ruim é pior que não ter nenhuma”
Prefeituras e mantenedoras, por favor, leiam isso. 🙂
Referências:
BRANCO, Isabel. Os impactos de uma boa creche. Revista Neuroeducação. 2016. Pág. 36 – 43.
SILVA, Camila Rodrigues da. Entrevista com Daniel Santos: Creche ruim é pior que não ter nenhuma. Revista Neuroeducação. 2017. Pág. 12 – 17.